ENTRE FORMA E CONTEÚDO DAS IMAGENS: SOBRE CIRCULAÇÃO E MODELO NA CATALUNHA ROMÂNICA
Responsável: Aline Benvegnú dos Santos
Resumo: A partir do século XII, observa-se, na região da Catalunha, a renovação de diversas edificações monacais segundo novos padrões arquitetônicos e decorativos. A maioria dos monastérios reformados já existia desde o século X; as novas construções - reformas ou reconstruções de todo o edifício - seguem uma topografia monacal na qual o claustro assume um papel central e onde há uma profusão de elementos ornamentais esculpidos. Segundo a bibliografia especializada no românico catalão, esses edifícios podem ser classificados tipologicamente como "claustros ornamentais", nos quais a diversidade de elementos fitomórficos, animais e geométricos é grande, porém sem grandes ciclos narrativos. Ainda segundo tal bibliografia, esse movimento de reforma dos edifícios monacais na Catalunha estaria ligado à influência da reforma monacal cluniacense que, ao ser trazida à região, teria impulsionado não apenas a reordenação da administração monacal, mas também a renovação material dos monastérios, os quais, a partir desse momento, compartilhariam de um estilo escultórico. Tomando como objeto de estudo os capitéis dos claustros de alguns desses monastérios, esta pesquisa procura estudar as relações entre os elementos esculpidos e as dinâmicas sociais em curso naquele momento na Catalunha. Para isso, nos afastaremos das tradicionais noções de estilo e modelos, para analisar como as imagens medievais estão intrinsecamente ligadas à sociedade da qual participavam.
Palavras Chaves: Capitel, Imagem, Catalunha, Claustro, Ornamento.
OBSERVÂNCIA FRANCISCANA E ESTRATÉGIA DE SANTIDADE: OS MANUSCRITOS DA FRANCESCHINA DE GIACOMO ODDI E SEU PROJETO SÓCIO-POLÍTICO (SÉC. XV)
Responsável: André Luiz Marcondes Pelegrinelli
Resumo: Ameaçados pelo aumento de poder dos frades conventuais e diante do falimento da canonização de Giovanni da Capestrano, os irmãos da Observância Franciscana precisaram repensar a estratégia de fabricação de santos utilizada para a construção da identidade e imagem pública do grupo. Neste contexto é que Giacomo Oddi terminava de escrever, em 1474, o Specchio dell'Ordine Minore, também conhecido como Franceschina, uma compilação hagiográfica baseada em tradições anteriores narrando a vida de centenas de frades mortos em odor de santidade, destacando suas semelhanças com Francesco d'Assisi e com Cristo, a fim de apontar a legitimidade e a retidão de seu grupo observante. Apesar da influência que a obra de Giacomo Oddi teria sobre textos posteriores, ela foi copiada apenas em três manuscritos medievais, que não só apresentam o texto do autor como são amplamente ilustrados com imagens em aquarela - característica presente já no manuscrito mais antigo. Através da análise desses três manuscritos - de seu texto, de suas imagens e de sua materialidade -, assim como de produções anteriores e contemporâneas que se relacionam com a obra, discutiremos a instrumentalização da santidade posta em prática pelo grupo observante naquela conjuntura em que, ameaçado, buscava apresentar uma continuidade harmoniosa entre antigos e novos santos.
Palavras-Chaves: Franceschina, Observância Franciscana, Franciscanismo.
AS IMAGENS DO LIVRO DE HORAS 50,1,022 DA BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO: PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO, USOS E FUNÇÕES
Responsável: Clara Magalhães Yamamoto
Resumo: A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro conserva uma pequena coleção de manuscritos medievais, entre os quais há oito livros de horas. Quatro deles provém da Real Biblioteca Portuguesa, tendo chegado ao Brasil em 1808, com a transferência da Família Real. Em nosso projeto de Iniciação Científica nos dedicamos a estudar um desses livros: o que tem a cota 50,1,22, com uso de Rouen, produzido em meados de 1460. Além dos textos característicos a esse tipo de livro, ele possui também imagens, que constituem nosso principal interesse. Elas são de dois tipos: as centrais, que figuram cenas da vida de Cristo, entre outros temas, e as marginais, compostas por motivos vegetais e seres híbridos. Entender como essas imagens coexistem em espaços distintos nos mesmos fólios, e como elas se organizam e se conectam, é fundamental para compreender os modos de funcionamento, usos e funções desse livro. Nesse último sentido, estudar a circulação desse manuscrito também é um de nossos objetivos: embora existam evidências acerca do local de sua produção, pouco se sabe sobre seu comitente, ou ainda sobre como chegou à Real Biblioteca. Dessa maneira, tanto a iconografia deste livro de horas quanto os vestígios acerca de sua produção e circulação no mundo medieval e pós-medieval são problemas norteadores desta pesquisa.
Palavras-Chaves: livros de horas, manuscritos, marginálias, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
VIRTUS SANCTA: ICONOCLASTIA E IMAGENS MILAGROSAS NA PENÍNSULA IBÉRICA TARDO-MEDIEVAL
Responsável: Debora Gomes Pereira Amaral
Resumo: A região localizada na costa Ocidental da Península Ibérica e que hoje conhecemos como Comunidade de Valência, durante a Idade Média tardia (séculos XIII ao início XVI) foi marcada pelas controvérsias antijudaicas e pelo o que a historiografia denomina de Reconquista Cristã. Em meio a estas contendas, as imagens religiosas tiveram importante papel, sobretudo no que diz respeito à convivência dos cristãos com as comunidades judaicas e muçulmanas (e mais tarde, com os conversos) como podemos identificar nos diversos relatos sobre agressões de imagens religiosas por membros destas religiões e conversos (acusados de hereges), que resultaram, como resposta, em supostas reações milagrosas. Tais relatos podem ser encontrados em algumas narrativas valencianas, como a do chamado Milagre do Santíssimo Cristo de Salvador (que teria sucedido em 1250 e foi configurado como uma decorrência da Passio Imaginis do Cristo de Beirute e do Crucifixo de Nicodemus), do Milagre do Santíssimo Cristo do Grao, de 1411 e do Milagre do Cristo de Resgate, de 1539.
Levando em consideração os diversos significados que as imagens religiosas poderiam assumir para os cristãos da Península Ibérica do final do medievo e as contradições e tensões daí resultantes, em nossa pesquisa de doutorado analisaremos estes três casos, da região de Valência, com a intenção de estudar os usos e funções que as imagens religiosas exerceram durante o processo conflitivo entre a devoção e o repúdio a elas, bem como as possíveis influências que tais imagens consideradas milagrosas conferiram a seus meios sociais.
Palavras-chave: imagens religiosas, imagens milagrosas, iconoclastia, crucifixos.
A ICONOGRAFIA DA MISSA DE SÃO GREGÓRIO: IMAGEM E REALISMO EUCARÍSTICO NA FRANÇA DO FINAL DA IDADE MÉDIA
Responsável: Doglas Morais Lubarino
Resumo: Apesar de comum nas imagens tardo-medievais, o tema iconográfico da Missa de São Gregório é ainda pouco conhecido e estudado. Essa iconografia figura um milagre eucarístico ocorrido durante uma missa: a aparição de Cristo, em geral estigmatizado e chagado, a São Gregório Magno. Essas imagens frequentemente apresentam também os instrumentos da Paixão, denominados Arma Christi. O milagre representado nessas imagens, juntamente com os Arma Christi e com a característica representação crística, evidencia-nos que a reprodução dessa iconografia buscou uma ligação entre o sacramento do pão e a Paixão de Cristo. Segundo a bibliografia especializada sobre a temática, tal associação tratava-se de um esforço eclesiástico de afirmar a presença real de Cristo no sacramento eucarístico. Há um número significativo dessas representações em pinturas murais e em painéis que foram produzidas na França e que, malgrado a grande oportunidade de estudos, não foram objeto de pesquisas detalhadas. Desse modo, é nosso objetivo analisar tal iconografia a partir de um corpus de imagens constituído por pinturas murais e retabulares produzidas entre os séculos XIV e XV. Com base na análise desse corpus, além do cotejamento com fontes históricas textuais e com a bibliografia especializada, investigaremos como essas imagens relacionam-se com o processo de afirmação do realismo eucarístico em seu contexto de produção e exposição no final da Idade Média.
Palavras-chave: Liturgia, Iconografia, Teologia, Eucaristia.
REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO, CORPO E SENTIMENTOS NA PEÇA ABRAHAM DE ROSVITA DE GANDERSHEIM
Responsável: Fernanda Fumico Ferreira de Barros Ujiie
Resumo: O projeto de pesquisa visa analisar as representações de gênero, corpo e sentimentos na peça rosvitiana Abraham, além de examinar certas características do teatro medieval, como a disposição espacial do público.
Palavras-chave: Teatro medieval; Rosvita; gênero; corpo; sentimentos.
O SISTEMA ECLESIAL MEDIEVAL: HISTÓRIA, CIÊNCIAS SOCIAIS E MONASTICISMO (EUROPA OCIDENTAL, SÉCULOS IX-XIII)
Responsável: Gabriel de Carvalho Godoy Castanho
Resumo: O presente projeto de pesquisa visa contribuir com o ensino e o estudo de História Medieval desenvolvidos pelo Programa de Pós-Graduação em História Social do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro por meio do aprofundamento reflexivo em torno de uma questão central: o papel do monacato medieval no sistema eclesial, com especial atenção para a Europa Ocidental dos séculos IX-XIII. Nas últimas décadas, o dominium e a ecclesia vêm sendo analisados em profundidade pelos medievalistas que passaram, então, a revelar seu papel capital no surgimento de diferentes formas de relações sociais existentes ao longo dos séculos medievais. Tais elementos estão presentes no que se habitou chamar por sistema eclesial. Trata-se de uma lógica material e ideal que orienta (ainda que de forma heterogênea) as ações dos representantes da instituição eclesiástica (o clero e os monges) no sentindo de instaurar a Igreja como instituição total, ou seja, equivalente ao conjunto da sociedade cristã. Visando tratar do lugar do monasticismo no sistema eclesial, presente projeto conta com seis objetivos (ou eixos de abordagem) que se encontram divididos em dois grupos. O primeiro privilegiará questões diretamente ligadas ao estudo da sociedade medieval por meio dos seguintes eixos: a ancoragem espacial; práticas: liturgia, escrita etc.; relações de poder. O segundo tratará de questões teórico-metodológicas capitais para a formação de medievalistas no século XXI: eclesiologia e ciências sociais; linguagem e história; medievalística digital. Por meio de aulas, reuniões de grupos de estudo, orientações de pesquisa, organização de palestras, de conferências, de mesas redondas e de jornadas de estudo, o presente projeto de pesquisa irá colaborar, de maneira renovada, com os estudos desenvolvidos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em História Social do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A verticalização da pesquisa a respeito do monasticismo medieval tem dupla justificativa institucional: 1) a maturidade atual dos estudos medievais brasileiros; 2) a falta de um grupo de pesquisas brasileiro que se constitua em um fórum inter-regional e internacional estritamente dedicado à análise do monasticismo e que possa revelar toda a riqueza de seu papel na organização social da época. Pretendemos assim, contribuir com a formação dos alunos do PPGHIS, fortalecendo ainda mais, em suas trajetórias, o equilíbrio entre o trato da documentação primária e a reflexão teórico-metodológica, aspecto tão necessário ao exercício profissional no campo das Ciências Sociais.
O LUGAR DO MONASTICISMO NO SISTEMA ECLESIAL MEDIEVAL. EUROPA OCIDENTAL, SÉCULOS IX-XIII
Responsável: Gabriel de Carvalho Godoy Castanho
Resumo: O presente projeto de pesquisa visa contribuir com o ensino e o estudo de História Medieval desenvolvidos no Instituto de História da UFRJ por meio do aprofundamento reflexivo em torno de uma questão central: a ancoragem espacial do monacato medieval, com especial atenção para a Europa Ocidental dos séculos IX-XIII. Nas últimas décadas o dominium e a ecclesia vêm sendo profundamente analisados pelos medievalistas que passaram, então, a revelar o papel capital do sistema eclesial na organização das relações sociais ao longo dos séculos medievais. Trata-se de uma lógica material e ideal que orienta (ainda que de forma heterogênea) as ações dos representantes da instituição eclesiástica (o clero e os monges) no sentindo de instaurar a Igreja como instituição total, ou seja, equivalente ao conjunto da sociedade cristã. Ela alimenta uma espécie de força centrípeta que funda os laços sociais (polarização espacial) e apresenta uma tendência dinâmica que assume formas diferentes ao longo dos séculos, permitindo assim, um estudo das mudanças sociais passadas. A verticalização da pesquisa a respeito da espacialidade do monasticismo medieval tem dupla justificativa institucional: 1) a maturidade atual dos estudos medievais brasileiros; 2) a falta de um grupo de pesquisas que se constitua em um fórum inter-regional e internacional estritamente dedicado à análise do monasticismo e que possa revelar toda a riqueza de seu papel na organização social da época. Por fim, através do estudo do período medieval, o presente projeto pretende colaborar com a formação dos alunos de graduação do Instituto de História, fortalecendo, em suas trajetórias, o equilíbrio entre o trato da documentação primária e a reflexão teórico-metodológica, aspecto tão necessário ao exercício profissional no campo das Ciências Sociais.
MAGENS DO PODER: LÚCIFER COROADO NO MANUSCRITO “LES TRÈS RICHES HEURES DU DUC DE BERRY” (MUSÉE CONDÉ, MS 65)
Responsável: Kleber Costa Timoteo
Resumo: O objetivo central da presente pesquisa é discutir a representação do poder em um manuscrito encomendado por um membro da família real francesa, o Les Très Riches Heures du Duc de Berry. Essa discussão terá por base a representação da coroa em Lúcifer nas iluminuras dos fólios 64v e 108r e levará em consideração as bases artísticas, literárias e sociais que motivaram esta escolha iconográfica, uma vez que tal coroa não se configura como uma característica usual nos temas iconográficos da expulsão de Lúcifer e do Inferno.
Palavras-chave : Lúcifer; Irmãos Limbourg; Les très riches heures; imagens; manuscritos.
OS HERDEIROS DO APÓSTOLO ANDRÉ: O PENSAMENTO ECLESIOLÓGICO DOS METROPOLITAS DE KIEV (1047-1274)
Responsável: Leandro César Santana Neves
Resumo: Pretendemos nesta pesquisa abordar a construção do pensamento eclesiológico de metropolita de Kiev e toda Rus entre os anos de 1047 e 1274. Compreendendo eclesiologia como tanto o pensar sobre a Igreja quanto a confusão desta com a sociedade em geral no plano das ideias, argumentamos que a comunidade de fé de Rus pensada pelos clérigos em questão encontrava-se em constante processo de reflexão e, logo, de institucionalização, ao passo que nas fontes existe uma compreensão da sociedade laica como uma comunidade eclesiástica. A função metropolitanal, semelhante ao ofício de arcebispo na Latinidade, garantia aos metropolitas uma posição única dentro de Rus como autoridade eclesiástica máxima (somente abaixo do Patriarca de Constantinopla) em contato direto com o poder laico e com os outros profissionais da Igreja, e pretendemos também demonstrar com as instâncias supracitadas influenciou na concepção de Igreja dos metropolitas.
Palavras-chave: Rus de Kiev; Eclesiologia; Metropolitas de Kiev e toda Rus; História da Igreja.
FRACTAIS DO LIVRO-OBJETO – REPRODUÇÕES DO LIVRO DE KELLS (TCD MS58) COMO EXEMPLO DE RECEPÇÃO DE UM MEDIEVO NO SÉCULO XX
Responsável: Leila Rangel Silva Geroto
Resumo: A produção de fac-símiles teve grande desenvolvimento em meados do século XX, a partir de técnicas mais elaboradas de fotografia, captura e impressão de imagens. Neste projeto de pesquisa propomos a análise de um fac-símile como exemplo de recepção de um manuscrito medieval irlandês de 340 fólios (680 páginas) contendo os quatro evangelhos, conhecido como Livro de Kells (Trinity College Dublin MS 58). A reprodução em questão apresenta 93 páginas inteiras e 6 meias-páginas, além de 30 pranchas coloridas adicionais com detalhes ampliados, publicada em 1974 pela editora Thames & Hudson, em Londres, e lançado nos Estados Unidos pela editora Alfred A. Knopf. O objetivo principal é investigar o fac-símile parcial como exemplo da recepção do manuscrito no século XX. Entre objetivos específicos abordaremos, em linhas gerais, o papel dos fac-símiles em processos de divulgação e estudos preliminares de documentos no campo da História. Também serão discutidas questões sobre a materialidade da reprodução e do manuscrito, enquanto livros-objeto e artefatos independentes entre si. Pretendemos, finalmente, contribuir para a discussão dos documentos medievais e sua apropriação por diversos discursos, narrativas da memória e ideias de passado, apresentando, na organização editorial e circulação das edições fac-similares destes fragmentos do medievo, exemplos da recepção de um imaginário sobre a arte e a história nas últimas décadas.
Palavras-chave: teoria da recepção, Livro de Kells, fac-símile, Irlanda, neomedievalismo.
IMAGENS DAS LETRAS E LETRAS NAS IMAGENS: OS ALFABETOS FIGURADOS NO OCIDENTE MEDIEVAL
Responsável: Maria Cristina Correia Leandro Pereira
Resumo: Diferentemente das chamadas iniciais, ou letras capitulares, um arranjo distinto das letras se encontra no alfabeto – a começar pela constatação de que nestas últimas sua função de iniciar determinada palavra ou frase é suspensa. No alfabeto, elas se dão a ver pelo e no que são: apenas letras. Apresentam-se, pois, de forma autônoma, seguindo uma lógica sequencial, coletiva e arbitrária que as ordena.
Uma característica relevante do alfabeto é sua visualidade, o que está presente em sua própria aparência enquanto “coisa em si”, enquanto unidade (e não só como o coletivo das letras), sendo particularmente evidente no caso dos alfabetos figurados. Este projeto de pesquisa visa, portanto, analisar o alfabeto figurado, ou seja, o arranjo sequencial das letras em diferentes formatos figurativos e cumprindo diferentes funções, durante o período que se convencionou designar por Idade Média, em sua área ocidental. Neste projeto, os alfabetos figurados serão analisados em três de suas funções principais: didática, estética (mais precisamente, ornamental) e satírica ou humorística – lembrando que todas elas podem estar enredadas: a aquisição de uma competência e a exibição de seu domínio são uma forma de embelezamento; a crítica satírica pode ensinar; e a beleza pode servir para ridicularizar ou fazer rir.
Palavras-chave: alfabetos, imagens, letras, arte medieval, manuscritos.
O LIVRO DE HORAS 50,1,016 DA BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO
Responsável: Maria Izabel Escano Duarte de Souza
Resumo: O projeto de pesquisa intitulado “O livro de horas 50,1,016 da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro” tem como objeto de estudo um livro de horas francês, conservado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, registrado sob o número 50,1,016. Ele faz parte de uma pequena coleção de quatro livros de horas manuscritos e iluminados que chegaram ao Brasil com a Corte Portuguesa em 1808, e que pertenciam, não se sabe desde quando, à Real Biblioteca Portuguesa.
Tomando como ponto de partida o códice supracitado, pretende-se seguir três grandes eixos de investigação: o livro, suas condições de produção e sua recepção na Real Biblioteca Portuguesa. O primeiro constará, portanto, do exame profundo do livro, levando em consideração seu texto e principalmente suas imagens. O segundo, do estudo do contexto de produção no qual o livro foi confeccionado, procurando identificar sua data e local de produção e o ateliê responsável por suas iluminuras. E o terceiro, da investigação a respeito da trajetória deste códice, levando em consideração adições posteriores feitas ao conteúdo do livro, inscrições e rubricas feitas em suas margens e ausências de textos e imagens. Ou seja, o caminho que ele percorreu até chegar à Real Biblioteca Portuguesa e à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Assim, estes eixos de análise não deixarão de privilegiar os aspectos históricos e sociais dos contextos aos quais o livro faz parte, sua produção, recepção, bem como seus usos e funções.
Palavras-chave: livros de horas, manuscritos iluminados, Mestre de Coetivy, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Real Biblioteca Portuguesa.
OS MOSAICOS DE SANTA COSTANZA: SOBRE A PRODUÇÃO IMAGÉTICA CRISTÃ TARDO-ANTIGA (ROMA, SÉC. IV – V)
Responsável: Mariana Pincinato Quadros De Souza
Resumo: Tomamos por objeto de estudo o programa de mosaicos que se encontram na atual Igreja de Santa Costanza, antigo mausoléu de Constantina, em Roma. Os mosaicos de Santa Costanza, os quais acreditamos terem sido produzidos nos primeiros anos do século V, fazem parte do conjunto de primeiras imagens produzidas após a instituição do cristianismo como religião oficial do Império Romano, ou seja, após o Édito de Tessalônica emitido pelo imperador Teodósio I, em 380. Construída originalmente como um mausoléu imperial, Santa Costanza abrigava os restos mortais de Constantina e Helena, filhas do imperador Constantino. Apesar de fazerem parte do programa decorativo de um espaço cristão, os mosaicos contêm diversos motivos originários da cultura politeísta romana, além de muitos motivos ornamentais não figurativos. Desse modo, a partir desse objeto de estudo, propomo-nos a refletir sobre algumas questões fundamentais que dizem respeito ao início da produção imagética cristã, que ocorreu na Antiguidade Tardia, como de que forma uma iconografia se torna efetivamente cristã, as funções dessas imagens e os motivos pelos quais foram produzidas, a relação entre as imagens figurativas e ornamentais, assim como o papel da ornamentação no âmbito cristão.
Palavras-chave: mosaico, Santa Costanza, antiguidade tardia, mausoléu, Roma.
OMNIBUS ANIMANTIBUS: A(S) LÓGICA(S) DAS IMAGENS EM OXFORD, ST. JOHN'S COLLEGE MS 61
Responsável: Muriel Araujo Lima Garcia
Resumo: Produzidos, em sua maioria, na Inglaterra durante os séculos XII e XIII, bestiários são manuscritos ricamente ilustrados. No entanto, há poucos estudos dedicados especificamente às suas imagens. Esta pesquisa tem por objetivo investigar o papel das imagens em Oxford, St. John's College MS 61, um bestiário copiado no priorado beneditino da Santa Trindade em York por volta em 1210-30. Este manuscrito é caracterizado pelo grande número de iluminuras e especialmente pelo ex-libris original preservado no último fólio, o que é extremamente raro em bestiários. Partimos do princípio de que as imagens deste livro não têm uma função meramente ilustrativa ou mnemônica, uma vez que raramente fazem referência às moralizações e exegeses do texto. A proposta principal desta pesquisa é, pois, analisar as imagens e suas funções neste manuscrito levando em consideração as particularidades da produção figurativa e suas diferenças fundamentais em relação ao(s) texto(s).
AS MINIATURAS NO HOMILIÁRIO DE SAINT-ANDRÉ-DU-CÂTEAU (BM CAMBRAI 528): FUNÇÕES E MODOS DE FUNCIONAMENTO
Responsável: Pamela Wanessa Godoi
Resumo: Os manuscritos iluminados constituem importantes objetos para os estudos das imagens na Idade Média. Dentre eles, um grupo específico tem recebido pouca atenção, os manuscritos litúrgicos, que se relacionam com um campo de estudos também ainda pouco explorado por historiadores, o da liturgia medieval. Propomos neste trabalho analisar o Homiliário catalogado pela Biblioteca Municipal de Cambrai com a cota 528. Feito entre os séculos XI e XII para a abadia beneditina de Saint-André-du-Câteau, ele contém 273 fólios com cópias de sermões e homilias, além de inúmeras imagens – de página inteira ou parcial, nas margens e nas iniciais. Entender como essas miniaturas foram produzidas, como foram vistas e usadas nos traz a possibilidade de reconhecer o papel que as imagens exerceram nesse tipo de objeto e nas sociedades nas quais foram produzidas e vistas.
Palavras-chave: manuscritos; miniaturas; Saint-André-du-Câteau; liturgia.
ÀS MARGENS DO DIREITO MEDIEVAL. RELAÇÕES TEXTO-IMAGEM NO MANUSCRITO BM AMIENS 347 (SÉC. XIII-XIV)
Responsável: Pedro de Oliveira e Silva
Resumo: O objeto de estudo desta pesquisa é uma cópia produzida por volta dos séculos XIII e XIV do Digestum Vetus, parte integrante do Corpus Iuris Civilis - importante documento de direito romano utilizado pelo contexto jurídico-canônico medieval, o BM Amiens 347. Neste manuscrito, textos e imagens marginais interagem intensamente, atestando a multiplicidade de possibilidade para a abordagem das garatujas do medievo.
Palavras-chave: Marginália - Garatuja - Manuscrito Jurídico Medieval.
ANIMAIS DAS TERRAS DE LÁ: UM CATÁLOGO DAS ESPÉCIES DESCRITAS PELOS VIAJANTES ENTRE OS SÉCULOS XIII E XV
Responsável: Rafael Afonso Gonçalves
Resumo: A proposta do projeto é elaborar um catálogo dos animais descritos em relatos de viagens à Ásia e à África produzidos nos séculos XIII, XIV e XV. Durante esse período, um número significativo de cristãos europeus se lançou em incursões para destinos muito além dos limites da Cristandade, como a Índia, a China, a Mongólia e as costas da África. Para contar a seus conterrâneos o que haviam visto naquelas terras desconhecidas, muitos desses viandantes colocam por escrito suas memórias e impressões. Entre as diversas descrições presentes nesses relatos, chama a atenção o espaço reservado aos animais que habitavam aquelas terras – alguns até então incógnitos, outros já familiares. O que se pretende com essa pesquisa, portanto, é realizar uma catalogação das espécies mencionadas pelos viajantes, procurando saber, entre outras coisas, como eram denominadas e classificadas, em quais lugares eram comumente encontradas, quais suas principais características e comportamentos e como eram utilizadas pelos nativos.
Palavras-chave: Viagens, Animais, Oriente, Idade Média.
O LUGAR DO MONASTICISMO NA MEDIEVALÍSTICA BRASILEIRA
Responsável: Raphael da Silva Lemos
Resumo: A seguinte pesquisa de Iniciação Científica visa um primeiro balanço do conhecimento científico institucional produzido no Brasil a respeito do monasticismo medieval ocidental. Para isso, elaboramos um banco de dados sistematizado com informações acadêmicas de historiadores(as) que trabalharam ou trabalham com o monasticismo. A partir dos dados recolhidos, concebemos alguns critérios para a análise de teses e artigos acadêmicos desses pesquisadores com intuito de percebermos a importância dada ao monasticismo na produção de conhecimento sobre a Idade Média no país.
Palavras-chave: Medievalística brasileira; monasticismo; historiografia.
CATÁLOGO TEMÁTICO DAS MOEDAS MEDIEVAIS DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL (SÉCULOS IV-XII) E ANÁLISE BASEADA EM MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE MOEDAS MEDIEVAIS
Responsável: Renan Marques Birro
Resumo: O Museu Histórico Nacional mantém sob sua salvaguarda um conjunto relevante de espécimes numismáticos da Europa Medieval Ocidental. Enquanto as moedas greco-romanas desta instituição foram objeto de estudos profundos nas últimas décadas, suas contrapartes do período medieval ainda não foram alvo de estudos sistemáticos; elas também não foram apresentadas para o público na forma de catálogo ou outra publicação análoga; outrossim, considerando os avanços da Numismática, campo do saber que se dedica ao estudo das moedas, este projeto tem a intenção de empregar técnicas de microscopia eletrônica para, juntamente com as técnicas convencionais de análise numismática, alcançar novas conclusões sobre esse conjunto monetário em termos abrangentes, a saber, considerando os aspectos da História Econômica, das circulações monetárias e das técnicas entre os séculos IV e XII, produzindo uma abrangente rede de colaboração entre pesquisadores desse período.
Palavras-chave: Numismática, moedas, Museu Histórico Medieval, catálogo, microscopia eletrônica.
CAVALEIROS E CARACÓIS: IMAGENS NAS MARGENS DE MANUSCRITOS DOS SÉCULOS XIII AO XV
Responsável: Stefanny Batista dos Santos
Resumo: Este projeto tem como proposta o estudo das imagens de cavaleiros e caracóis representadas nas margens de alguns manuscritos do século XIII ao XV na Europa Ocidental. Dadas as variações iconográficas na figuração do tema, não buscaremos identificar um significado único para essas imagens, mas sim explorar seus vários sentidos e os vários papéis que elas desempenham em seu suporte (o manuscrito). Defendemos a hipótese de que estas imagens cumpriam diversas finalidades, e para isto nos valemos de uma abordagem teórico-metodológica que priorize a diversidade e inventividade das imagens medievais. Para tanto, será feito inicialmente um levantamento destas representações e sua classificação em tipos, para em seguida passar à análise individual das imagens selecionadas e à comparação entre elas.
Palavras-chave: Marginália, Caracóis, Cavaleiros, Manuscritos.
A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DO PODER ECLESIÁSTICO MEDIEVAL: UMA NARRATIVA SOBRE VÍCIOS E VIRTUDES NA CRUZADA ALBIGENSE (1209-1229)
Responsável: Thalita Soares Claudino
Resumo: Os séculos XI-XIII representam para a cristandade medieval o momento de institucionalização da Igreja. Como consequência desse processo de expansão e de tentativa de monopolização da fé criou-se as margens, onde todos aqueles que viviam o cristianismo diferente daquele que estava sendo proposto pela Igreja foram colocados. As práticas cristãs que fogem aos costumes e princípios estabelecidos pela Igreja foram consideradas pela mesma como heresia. Herege é, em termos linguísticos, aquele que escolhe um outro caminho. Diversos grupos foram identificados somente como heréticos, sem se considerar as particularidades de cada um deles. Essa redução a uma matriz comum nos leva a investigação dos instrumentos com os quais a Igreja operou na demarcação dos seus opositores a partir do caso específico dos cátaros do Languedoc francês, contra os quais foi empreendida uma Cruzada entre 1209 e 1229.
A Historia Albigensis, considerada uma das principais fontes da Cruzada Albigense, foi escrita por um monge cisterciense, que tinha por finalidade narrar o conflito e torná-lo conhecido entre as nações a fim de exaltar os atos de Deus em nome da cristandade. Em vista disso, consideramos que seu conteúdo deve ser analisado como a representação de algo que se queria combater e extinguir. Por isso, nos propomos a analisar o catarismo, tal como chegou até nós, enquanto uma representação construída pela Igreja em um momento de afirmação do seu poder eclesiástico no conjunto da sociedade do Ocidente Medieval. Nosso propósito é analisar o papel da prática escrita na construção do poder eclesiástico no conjunto da sociedade do Ocidente Medieval a partir do discurso e da narrativa sobre vícios e virtudes contida nesse documento.
Palavras-chave: cruzada albigense; discurso; prática escrita; heresia; catarismo.
A MEMORIA APOSTOLORUM: FORMAS DE DEVOÇÃO AOS MÁRTIRES E A ORGANIZAÇÃO DA COMUNIDADE DE FÉ CRISTÃ NO OCIDENTE (ROMA, SÉCULO III)
Responsável: Vanessa de Mendonça Rodrigues dos Santos
Resumo: Nosso trabalho teve por objetivo analisar o monumento Memoria Apostolorum, dedicado aos apóstolos Pedro e Paulo. O monumento foi construído em Roma, em fins da década de 250 e funcionou até o princípio do século IV como polo de devoção aos principais apóstolos-mártires da História do Cristianismo, aquele que detinha as chaves da Igreja (Pedro), e o apóstolos dos gentios (Paulo). Nesse sentido, nossa pesquisa refletiu sobre a importância dos mártires para o Cristianismo do século III em Roma e a organização das comundiades de fé em torno da devoção a estes. Refletimos sobre a constituição de espaços sagrados cristãos, que se desenvolveram a partir do túmulo dos mártires, e das práticas devocionais realizadas nestes, a fim de compreender qual seria a função religiosa destes para os fiéis. Além disso, buscamos investigar como a devoção aos mártires se tornou um elemento central na construção da identidade cristã, em geral, e das comunidades que se organizam em torno da devoção a estes.
Palavras-chave: Cristianismo; mártir; devoção; epigrafia; catacumbas.
AS IMAGENS DOS REIS NO "LIBRO DE LAS LEYES FECHAS POR LOS REYES GODOS" (MADRID, BIBLIOTECA DE LA FUNDACIÓN LÁZARO GALDIANO, MS R14423)
Responsável: Vitor Eduardo Coghetto Vieira da Silva
Resumo: Este projeto tem por objetivo analisar as imagens de reis presentes no manuscrito Libro de las leyes fechas por los reyes godos, que se encontra atualmente na biblioteca da Fundação Lázaro Galdiano, em Madrid. Trata-se de um manuscrito que possui poucas informações divulgadas, mas atribui-se sua confecção ao século XIV. Seu conteúdo é composto por uma série de leis atribuídas aos reis visigodos, cujo reinado se estendeu desde o século V d.C., com a dissolução do poder imperial romano, até o século VIII, quando se inicia a expansão árabe pela Península Ibérica. O manuscrito se organiza em doze livros, sendo cada um destes precedido de uma representação imagética de um rei visigodo e sucedido pela descrição de uma série de leis. A partir da análise das imagens, através de um método comparativo que visa estabelecer as aproximações e diferenças entre cada figura, buscaremos entender qual o papel destas na organização do manuscrito e como estão articuladas ao conteúdo textual.
Palavras-chave: Manuscrito; Imagens de reis; Ornamentalidade; Visigodos.
A CONTRIBUIÇÃO DO CONHECIMENTO ANTIGO SOBRE A NATUREZA PARA A CONSTRUÇÃO DAS CATEGORIAS "COMIDA" E "MEDICAMENTO" NO OCIDENTE MEDIEVAL
Responsável: Wanessa Asfora Nadler
Resumo: Este projeto de pesquisa trata do problema que envolve a construção das categorias comida e medicamento em um contexto particularmente rico para o desenvolvimento sociocultural e científico do Ocidente, a Idade Média e o Renascimento. A temática é de extrema importância, pois aquelas categorias colocam problemas cujo impacto pode ser sentido na atualidade, dentre outras coisas, na maneira como a ciência contemporânea lida com questões alimentares. A hipótese da pesquisa sugere que a distinção teórica atual entre comida e medicamento não estaria essencialmente relacionada a práticas compartilhadas por diferentes grupos sociais, mas que seria resultante do processo de racionalização que organizou o pensamento científico moderno visando a delimitação e a afirmação de espaços e atribuições de profissionais distintos. Propõe-se, portanto, um trabalho de investigação com o objetivo de construir um quadro historicizado e interpretativo para a circunscrição teórica das categorias comida e medicamento, a partir de um tipo de fonte privilegiada para tal: a chamada literatura técnica antiga que circulou na Europa desde a Alta Idade Média. Serão investigadas obras inseridas no âmbito da Physica ou Filosofia Natural, principalmente textos médicos e zoobotânicos.
Palavras-chave: Idade Média; manuscritos; natureza; medicina; alimentação.